terça-feira, 9 de março de 2010

Páreo duro: Massive Attack X Portishead

Me desculpem pelo atraso na postagem da semana, oh, caros amigos. Mas aqui estou e para compensar falarei das duas mais importantes bandas do chamado Trip Hop. Mas antes, um resumo da história deste estilo também conhecido como o "Som de Bristol", referindo-se à cidade da Inglaterra onde surgiu. Você entenderá a importância disso quando eu falar das bandas.  
Trip Hop na verdade foi o nome usado pela revista Mixmag em 1995 para definir o álbum "Maxinquaye" do artista Tricky (Adrian Thaws). Apesar de o termo ter surgido apenas nesse momento, o estilo já vinha se formando desde meados dos anos 80. Nesta época Tricky fazia parte de um coletivo de DJs, MCs e cantores de Bristol chamado Wild Bunch, que já compunha usando o que seria a "base" do Trip Hop: música eletrônica com downbeats (batidas lentas), elementos do Hip Hop como scratches e tembém de Soul, Dub, Electropop e Acid Jazz. Um verdadeiro mexidão. No final da década o coletivo acaba e alguns de seus integrantes (inclindo Tricky) formam o Massive Attack que consolida o estilo com o álbum "Blue Lines" em 1991. No mesmo ano é formado o Portishead que traz seu ar obscuro e melancólico e consagra de vez a "música de Bristol", ainda sem um nome definido, ao lançar "Dummy" em 1994. Bem, agora todos já entendem mais ou menos o que é Trip Hop (procurem conhecer os artistas que citei)? Então vamos lá.
Resolvi escrever este artigo aproveitando o recente lançamento do álbum "Heligoland" do Massive Attack. Sendo assim, começarei falando do "dito cujo". Composto hoje apenas pela dupla 3D (Robert Del Naja) e Daddy G (Grant Marshall), essa banda que tinha ainda Tricky e Mushroom (Adrian Vowles) quando criada em 1988 (adivinhem onde), lançou no mês passado um álbum depois de sete anos desde o fraco "100th Window". Para quem conhece os trabalhos do Massive Attack nos anos 90, principalmente o excelente, assustador, extasiante e terrivelmente sensual "Mezzanine" de 1998, "Heligoland" soará como uma tentativa de retornar a essa época tão rica para o Trip Hop. Num aparente bloqueio criativo, os caras parecem desorientados num tempo previsto por eles em discos passados, deprimente e caótico. Preferiram não se aventurar por trilhas desconhecidas e levaram o Trip Hop ao fundo de um poço sem fundo. Mas o disco não é ruim. Os músicos continuam extremamente perfeccionistas e fazem um som de muita qualidade, com todos os detalhes nos seus devidos lugares. Algumas faixas me agradaram bastante como a primeira, "Pray for Rain" com vocal de Tunde Adebimpe do TV on The Radio, que traz um clima de deserto africano, angustiante. Ouça com um copo d'água do lado. "Babel" é um Drum'n Bass mais lento e com melodia grudenta e vocal delicado de Martina Topley-Bird que já trabalhou também com Gorillaz. Falando nisso, a música "Saturday Come Slow" tem vocal de Damon Albarn e um belo arranjo. Preste atenção (não precisa tanta) a "Rush Minute". Não parece "Bella Lugosi´s Dead" do Bauhaus? Vale a pena escutar, até mesmo para entender o que estou falando. E quem não conhece os trabalhos anteriores, procure e compare. O disco em si é muito bom, mas na história do Massive Attack decepciona, principalmente por eles terem ficado tanto tempo sem produzir nada. Já não é tão impactante quanto antes. Só espero que isso não continue nos próximos discos. Para ajudar na comparação, postarei também o "Mezzanine" que é o melhor disco destes ingleses.                                            
Ao contrário do Massive Attack, o Portishead resolveu fazer tudo diferente, e acabou rompendo completamente com o Trip Hop no seu álbum mais recente, "Third", lançado em 2008, após um hiato de quase dez anos. E deu certo. Nele vemos uma banda amadurecida e pronta para explorar novos horizontes, ou melhor, novas matas densas, escuras e frias, mas com algumas clareiras durante o percurso. O disco segue uma linha, não muito definida pelo fato de ser totalmente experimental, que passa pelo folk com violões dedilhados, arranjos ultra simples, sintetizadores anos 80 e músicas que lembram muito a dupla americana dos anos 60 Silver Apples (Falarei sobre eles algum dia) como a faixa "We Carry On" e a primeira, "Silence" que tem no começo uma frase em português: "Esteja alerta para a regra dos Três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha o que você merece." Pesquisando na internet, eu vi que essa frase pode referir-se à Lei Tripla da religião Wicca. Enfim, os temas das letras continuam melancólicos, mas o fato de não se prender ao Trip Hop permite um passeio por uma variedade ritmica muito maior. Para ajudar na comparação também disponibilizarei o disco "Dummy" que é o primeiro do Portishead. Ouçam e tirem suas próprias conclusões. Abraços e até a próxima postagem.
                                                                                         Pablo
Portishead é: Beth Gibbons: Vocais
                    Geoff Barrow: Programação, samples, scratches, sintetizadores
                    Adrian Utley: Guitarras           
Mais informações: Portishead - Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Portishead
                                 MySpace:  http://www.myspace.com/portisheadalbum3
                                 Site Oficial: http://www.portishead.co.uk/
             Massive Attack - Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Massive_Attack
                                 MySpace:  http://www.myspace.com/massiveattack
                                 Site Oficial: http://massiveattack.com/
Third
01 Silence
02 Hunter
03 Nylon Smile
04 The Rip
05 Plastic
06 We Carry On
07 Deep Water
08 Machine Gun
09 Small
10 Magic Doors
11 Threads
Dummy
01 Mysterons
02 Sour Times
03 Strangers
04 It Could Be Sweet
05 Wandering Star
06 It´s A Fire
07 Numb
08 Roads
09 Pedestal
10 Biscuit
11 Glory Box
Heligoland
01 Pray For Rain
02 Babel
03 Splitting The Atom
04 Girl I Love You
05 Psyche
06 Flat Of The Blade
07 Paradise Circus
08 Rush Minute
09 Saturday Come Slow
10 Atlas Air
Mezzanine
01 Angel
02 Risingson
03 Teardrop
04 Inertia Creeps
05 Exchange
06 Dissolved Girl
07 Man Next Door
08 Black Milk
09 Mezzanine
10 Group Four
11 (Exchange)

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Breve História sobre o Radar

Desde o começo, nos percebemos diferentes. Eu, por exemplo, guardava o dinheiro do lanche para ir à banca da esquina comprar revistas de rock depois da aula. Estudava as bandas que gostava e pesquisava o que eles teriam ouvido, começando assim um ciclo infinito, onde tudo o que eu curtia, acabava se encontrando em algum lugar.
Na adolescência as coisas pioraram... Sem gastar dinheiro com roupas e longe de ser uma garota normal, já começava a ter uma boa coleção de músicas: alguns vinis e muitas fitas, algumas gravadas de rádio depois de horas atenta esperando tocar "aquela banda". Comecei a copiar fitas para os amigos, fazia coletâneas e era sempre a DJ das festas, enquanto as amigas paqueravam os gatinhos.
Com o tempo, fiz bons amigos por intermédio da música, briguei e fiz sacrifícios pessoais por amor a ela. Um vício.
Nos conhecemos falando de música. Nos reconhecemos, aliás. No começo eram dialógos mais ou menos assim:
- Você conhece tal banda?
- Uhum.
- E fulano?
- Uhum.
E para testar, arriscava um artista quase desconhecido e perguntava de novo. E de novo: - Uhum.
Era verdade.
Hoje temos um enorme e interessante acervo, fruto de anos de pesquisa e prazer. Sempre aplicamos os amigos com novidades e raridades. Dividimos tudo com alegria e como um radar, continuamos atentos às coisas que surgem. Decidimos fazer isso em escala bem maior e assim surgiu a idéia do Radar Ultrassônico: continuar captando, decodificando e transmitindo o que rola pelo mundo da música para quem, como nós, é louco por música. Postaremos sempre uma resenha sobre a banda, artista, projeto, etc, com referências sempre que possível, acompanhada de arquivos para download. Então, sintam-se à vontade para consultar as referências, baixar os arquivos, deixar comentários, perguntas, críticas, sugestões, etc. Tudo será lido e respondido.
Todas as opiniões contidas neste blog são frutos de experiências, observações e impressões pessoais e não são necessariamente baseadas em rótulos pré-estabelecidos como por exemplo PUNK, PROGRESSIVO, INDIE, etc.
Então... Sejam bem vindos. Com ou sem aditivos, relaxem, divirtam-se e boa viagem!
Olhos e ouvidos atentos ao radar!
Dani